segunda-feira

São Tomé

É, a seguir às Seychelles, o mais pequeno país africano, mas reserva tantos encantos a quem aprecia a Natureza no seu estado mais puro e selvagem que a sua beleza é inversamente proporcional à dimensão. Se não procurar, claro está, umas férias luxuosas num resort cinco estrelas à beira-mar plantado. Como diz o ditado, “em terra de lobos deve uivar-se com eles”. Quer isto dizer que, para absorver toda a magia deste pequeno país, há que o calcorrear (na medida do possível, pois algumas das estradas são mais pistas de terra enlameada na época de chuvas), enveredar pelas florestas equatoriais quase virgens, visitar as antigas roças de cacau, explorar a sua cozinha condimentada e travar conhecimento com a doçura dos locais. Enfim, apreciar as tradições deste povo, resultante da mistura de muitos outros.

É quase impossível de imaginar, mas este pedaço de terra de origem vulcânica pintado com as cores do arco-íris era desabitado até à chegada dos portugueses, em 1470. Estes povoaram-na inicialmente com proscritos, judeus castelhanos e escravos provenientes de Angola e Moçambique, mão-de-obra essencial para a exploração da cana-de-açúcar. Serviu, ainda, como entreposto de escravos, capturados no continente e levados depois para o Brasil, e, no século XIX, chegou a ser o maior produtor mundial de cacau e um dos produtores do melhor café arábico. Já durante o século XX viu chegar muitos contratados da Guiné e de Cabo Verde, mas com a independência do país, em 1975, as roças foram abandonadas pelos seus antigos exploradores e o fluxo migratório terá ficado por aqui.

Ao longo de cinco séculos de colonização, os portugueses construíram linhas de caminhos-de-ferro para o transporte de cacau, levantaram roças em locais impossíveis, fizeram plantações até onde a vegetação luxuriante o permitiu e povoaram a ilha. Só não conseguiram construir uma estrada decente em todo o redor de São Tomé e cerca de 60% do seu território continua, em parte por esse motivo, inacessível. O que não é de todo um factor negativo.

Permanece assim virgem a grande floresta de Obó, um intrincado conjunto de árvores gigantescas, classificada como parque natural, e outras áreas de beleza similar, a que begónias gigantescas e orquídeas conferem algum colorido. Refira-se que esta floresta primitiva, quase impenetrável, foi declarada a segunda de interesse biológico em toda a África. É habitat de uma das cobras mais perigosas do mundo, que segue um princípio nem sempre respeitado pelos humanos e a torna, curiosamente, quase inofensiva – só ataca em legítima defesa.

Restaurantes, bares e discotecas, só os encontrará praticamente na capital, São Tomé. Guarda alguns exemplares da arquitectura colonial que, em conjunto com a língua, nos fazem sentir em casa após uma breve estada. Além de que é possível encontrar na cidade quase tudo o que se come e bebe em Portugal, mas ao dobro do preço.

Não se pense, no entanto, que lá porque o tempo avança devagar em África e porque a ilha é pequena (cerca de 1000 quilómetros quadrados), há espaço para preguiçar. É que São Tomé reserva diversas surpresas e são todas imperdíveis. As praias, por exemplo: existem as mais ou menos frequentadas, as mais ou menos próximas e as de acesso mais ou menos difícil, mas todas partilham de um mar transparente e quente e de areais guarnecidos por coqueiros. A praia da Lagoa, a praia das Sete Ondas, a Piscina, a Jalé ..., o difícil será escolher.

Porque adoramos São Tomé...
Porque as pessoas, apesar de inexplicavelmente pobres num país de terras miraculosamente férteis (até em petróleo), mantêm um sorriso sempre aberto e recebem o viajante de braços abertos. Mesmo aqueles que vivem em condições miseráveis junto às antigas roças portuguesas, entretanto em ruínas. A visita a estes lugares é, no entanto, interessante, dada a beleza da floresta equatorial que as envolve, a imponência da sua construção, ainda perceptível, e o panorama que daí se obtém sobre o Atlântico.

São Tomé está cercada por outras pequenas ilhas, das quais apenas o Ilhéu das Rolas é habitado. Outro santuário ecológico, rodeado por praias fabulosas, onde é possível observar golfinhos e baleias e ainda cinco espécies de tartarugas das sete conhecidas no planeta. Aságuas são tão ricas em peixe que o lugar é, por excelência, um dos melhores em todo o arquipélago para a prática de pesca desportiva e mergulho.

Chegar ao Ilhéu das Rolas é uma tarefa algo complicada – há que percorrer quase 100 quilómetros da capital ao cais da Roça de Porto Alegre para fazer daí o transfere –, mas vale a pena. É também aí, nessa ilha atravessada pela linha imaginária que divide os dois hemisférios, que se encontra um dos melhores complexos turísticos do arquipélago, o Rolas Island Resort. E algumas paisagens inesquecíveis, onde os coqueiros são uma presença dominante, assim como o verde que pinta montes e vales, cujas encostas desaguam em pequenas povoações ribeirinhas.



A alternativa seria...
...Bijagós, na Guiné-Bissau (e isso apesar da instabilidade política do país). Porque não são apenas dois santuários naturais habitados, mas sim cerca de 17, entre muitas dezenas de ilhas classificadas como Reserva da Biosfera. As paisagens no arquipélago dos Bijagós variam entre manguezais, bosques de palmeiras, savanas húmidas e bancos de areia, preservados pelo estilo de vida dos seus habitantes, na sua maioria pescadores (daí que as sensíveis tartarugas abundem nesta reserva). Devido ao seu isolamento, mantêm uma forte identidade cultural, assente em rituais animistas e numa organização social apoiada no matriarcado (o que se opõe de forma brutal ao estatuto feminino na Guiné continental): são as mulheres quem escolhe o marido, cuja virilidade é “testada” antes do compromisso final.

A maior parte das Bijagós não dispõe de infra-estruturas turísticas, assim como a maior parte dos seus habitantes nunca conheceu o continente. As visitas costumam ser feitas de barco e por apenas um dia, mas se quiser permanecer por mais algum tempo neste refúgio natural, pode ficar alojado num dos hotéis da principal ilha, Bubaque.

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