sábado

Arte Xávega, Nazaré, Portugal

A arte xávega é um dos mais antigos e característicos processos de pesca artesanal que, na Nazaré,

adquiriu particularidades específicas. Os seus elementos identificativos são inúmeros, começando pela embarcação usada – fundo chato, proa em bico elevado, decoração simples.


Também a rede usada neste tipo de pesca possui características próprias, sendo constituída pelo saco (onde se acumula o peixe)


e pelas cordas, cuja extensão varia conforme a dimensão da rede e dos lances.
A companha, variável, era, na generalidade composta por 8 homens: o arrais, à ré; 3 remadores no banco do meio,



os "revezeiros", os que "vão de caras p´ró mar", 2 no banco da proa e outros tantos no "banco" sobre a coberta;

embora esta disposição não fosse rígida, labutavam, tantas vezes estoicamente, num remar vigoroso e cadenciado, a caminho dos lances dos lances que lhe davam o sustento.

Os “lances” de mar
O mar, frente ao extenso areal da Nazaré, estava dividido em lances (ou lanços), conhecidos pelos pescadores

a partir dos chamados enfiamentos dos sinais de terra e de mar. Os primeiros eram dados por determinados pontos nas encostas do promontório e da Pederneira

(montes, esquinas, casas, janelas, ruas,...). Para todos os lances, o sinal de mar era dado pela “chaminé do palácio real a encostar à torre da igreja de Nossa Senhora da Nazaré”, no Sítio.
Cada lance tinha o seu nome. A sul da foz do rio Alcoa: Esprangeira, Ferro, Morto, Parcelo, Dois Bicos, Juncal, A Velha, A Nova e o Sisal. A norte: o Brasil (que deixou de existir

após a construção do Porto de Abrigo), Latas, Sprum, Lance Norte, Esquininha, Coroa, Paus, Moiteira, Borda do Poço e Salgueiro. Cada companha passava por estes lances, diferentes na sua riqueza de pescado.

O “alar” das redes
A rede era, assim, lançada de acordo com os sinais de terra e mar, a cerca de 300 braças da praia e ocupando uma extensão de cerca de 200 metros de largura.

Cada lance tinha a duração de hora e meia para a permanência da rede na água, e meia hora para a alagem (puxar a rede). Até meados do século XX, logo que «as artes eram postas na água», o cabo de mar içava na lota uma bandeira alaranjada. Acabado esse período, a bandeira era arriada,

assinalando o início ao alar das redes. Esta forma de aviso deixou de ser praticada com a vulgarização do relógio.
Na borda d’água, estavam os camaradas de terra, para o alar da rede. Com um ritual próprio, lento e cadenciado,

dois “cordões humanos” puxam as cordas dos dois lados – mão esquerda agarrada à corda junto ao pescoço, braço direito estendido. É este o ritual que, nos dias de hoje, seduz o visitante e o leva a participar, puxando também ele a rede.


Noutros tempos, quando a pesca era sustento de muitas famílias, a chegada do saco a terra era saudada com entusiasmo, se vinha cheio (“aboiado”), ou com tristeza, se vinha vazio (“estremado”). O peixe era posteriormente tirado para os xalavares (tipo de cesto)

que, por sua vez, eram transportados para a lota, a fim de se proceder à sua venda. Actualmente, a lota de praia é também recriada, com a licitação do peixe feita com o tradicional “chui” – sinal que o peixe foi arrematado pela melhor oferta.
A distribuição do “quinhão”


No passado, uma certa quantidade de peixe não ia para a lota. Destinavam-se os quinhões de peixe aos camaradas da companha, aos “ajudas” do alar das redes e aos “caldeireiros”. De oito em oito dias, acertavam-se as “contas” (em dinheiro).

Segundo a norma, do produto da venda do pescado (“monte maior”), retiravam-se as despesas (impostos à Lota, à Mútua dos Pescadores, Guarda Fiscal, Alfândega e Câmara Municipal; e as

despesas relativas à arte, como o boieiro, matrícula e a taberna). Do produto líquido, uma terça

parte era para o barco e os restantes dois terços para a companha. O quinhão atribuído a cada homem obedecia

a um complexo cálculo, sendo o quinhão do arrais superior aos dos restantes camaradas






Até que Deus queira!
Boas marés…
para esta gente que caminha no
mar!

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